Por que trabalhar se tornou tão chato para tantas pessoas?

“Algo de errado não está certo”…

Não preciso trazer dados estatísticos ou pesquisas feitas em grandes empresas para afirmar isso. A insatisfação das pessoas pelo modelo de trabalho do século XXI está estampado na cara ou em muitas vezes nos corpos gritando por ajuda.

Uai, por que trabalhar se tornou tão chato para tantas pessoas?

Por que tantas pessoas acordam com vontade de ver o dia acabar?

Por que tantas pessoas trabalham esperando a hora de se aposentar?

Por que tantas pessoas trocam tanto de emprego e percebem que o problema não está no emprego?

Poxa… são tantas perguntas e tantas infinitas respostas. São tantas respostas e tão poucas ações efetivas.

De fato, o mundo do trabalho está chato, está respirando com ajuda de aparelhos. Trabalhar se tornou massante, massacrante, sufocante para muitos.

Mas o que não estamos vendo desses sintomas? O que não queremos ver, pois se vermos não conseguimos desver? o que estamos olhando superficialmente para não nos depararmos com as verdades?

Se trabalhar não é só produzir e sim viver junto, porque o trabalho está cada vez mais solitário, mais individualista?

Se trabalhar é construir a si mesmo, porque o trabalho tem sido desafiador para a auto estima, auto confiança e construção da identidade? Pessoas estão se perdendo de si…

Se trabalhar é deixar um legado, porque as pessoas não querem criar vínculos, não querem fazer carreira, não querem deixar sua marca no mundo?

Sim!!! Esse mundo do trabalho que vivemos hoje é chato. Mas que tal construirmos um trabalho edificante, divertido, construtivo, perspicaz?

Que tal deixarmos nossa marca no mundo?

Esse é o Jeito Movas de Ser.

Ih…. a casa caiu

Notícia quentinha publicada na Folha de São Paulo, já era esperada pela Movas há anos, agora a conta está chegando para muitas empresas. O preço alto da boa intenção e da falta de assertividade.

“Executivos das empresas estão começando a repensar sua abordagem aos programas de bem-estar dos funcionários, pois pesquisas sugerem que, apesar de bilhões de dólares serem gastos em tais iniciativas, muitos trabalhadores estão mais infelizes e menos saudáveis do que nunca.”

Em uma postagem que fizemos em 2022, refletimos o seguinte:

Será que as organizações estão mesmo cuidando da SAÚDE MENTAL de seus times?

Lendo e vendo tantas iniciativas de tantas empresas (não tenho dúvidas que são bem intencionadas), fico em dúvida se os conceitos estão sendo bem entendidos, se as abordagens estão sendo mesmo corretas, pois se a lente para enxergar essa questão estiver incorreta, as abordagens não atingirão o seu objetivo.

A grande questão a ser investigada é “QUAIS CONDIÇÕES ESTÃO SENDO DADAS” para os empregados desenvolverem seu trabalho? Qual o sentido que esse trabalho tem para essas pessoas? Quais novas perguntas podem ser feitas para encontrarmos a causa raiz dos problemas, que não são tratados através de medidas paliativas e superficiais?

Precisamos urgentemente ampliar esse olhar, aprofundar as camadas, melhorar a nossa compreensão acerca das questões do trabalho, compreender melhor a relação das pessoas com o seu trabalho. para que possamos compreender as profundezas da SAÚDE MENTAL E TRABALHO.

Não é sobre as pessoas e sim sobre quais condições são dessas!!!

Temos percebido um aumento significativo do número de empresas que olham a saúde mental apenas pelo âmbito do indivíduo. Quando colocamos o foco no indivíduo é uma crueldade, pois “se o fulano não deu conta, troca”!

Mas quando estamos falando da relação da saúde mental com o trabalho, temos que tirar o foco do indivíduo e colocar o foco na organização. Quais condições são dadas para o trabalho ser realizado?

É preciso mudar o foco, mudar as perguntas, fugir das medidas mitigatórias e simplistas.

Medidas paliativas de bem estar, indicadores reativos, foco no indivíduo, são ações que enxergam o “desfecho do filme”, causando grandes enganos organizacionais.

Quando olhamos para o indivíduo estamos olhando para as consequências, estamos olhando para os sintomas, para o desfecho.

Quando olhamos para a organização do trabalho, estamos buscando explicações, conhecendo como as coisas se dão, olhando o filme em sua totalidade, conhecendo os indutores.

Quer cuidar da relação da saúde mental e trabalho? Então faça um bom exercício de autoconhecimento da organização.

Foque na transformação da Organização do trabalho.

Os melindres do mundo corporativo

É tudo muito melindroso e dual, como muitos aspectos da vida. Questionar o sistema requer pisar em ovos, de pantufa.

Se todos dão conta, eu preciso dar também.

Se todos trabalham até de madrugada, eu preciso trabalhar também.

Se todos estão praticando o silêncio, eu preciso praticar também.

Se ninguém questiona os líderes, eu também não vou questionar.

Se todos estão acomodados no comando e controle, eu também ficarei.

Se todos estão infelizes no trabalho em silêncio, eu também ficarei.

Se praticar o bem estar no trabalho for as custas da saúde mental, que seja, isso é normal.

E assim segue o baile. As organizações acham que está bom e as pessoas fingem que realmente está.

Os indicadores não explicam, só indicam e as métricas vão cegando as lideranças.

E a alta performance fica como? A que custo?

Se a organização do trabalho não mudar, as pessoas não mudarão.

Não podemos simplificar o trabalhar das pessoas

Posso chamar esses parágrafos de POST ou posso chamar de DESABAFO, mas ambos com uma música dramática de fundo…

Não podemos simplificar o trabalhar das pessoas, não podemos entender o trabalho somente pela postura corporal, pelo mobiliário que eles utilizam e pelo resultado entregue. Trabalhar é agir diante da condição imposta ou proposta. Postura corporal é consequência.

O mundo do trabalho vem passando por diversas transformações ao longo dos tempos, fato que não é novidade para ninguém. Passamos por revoluções industriais, globalização, revolução tecnológica, revolução da longevidade, diversidade, inteligência artificial, robótica e uma coisa é fato, essas transições não irão parar, pois enquanto surgirem necessidades vindas do mercado, essas transformações continuarão a acontecer. O mercado muda, as pessoas mudam e o design organizacional das empresas muda também.

O mundo do trabalho está tão acelerado, onde o tempo virou artigo de luxo. Tem sido exigido colaboração, inovação, mas na cartilha não ensina como, não dá tempo para aprender.

E diante disso, vemos uma Ergonomia (sem generalizações, por favor) sendo aplicada de forma superficial, morna (quase fria), simplificada, míope.

Fazer Ergonomia não é e não pode ser apenas analisar posto de trabalho, não é e não pode ser apenas analisar ferramenta, não é e não pode ser dizer o que o outro deve ou não fazer, não é e não pode ser dizer a postura “correta” para se manusear uma carga, não é e não pode ser sair procurando risco como se ali, no protagonismo da ação, não existissem pessoas que pensam e sentem.

Estudar o trabalhar das pessoas não é apenas analisar o fruto desse trabalho (aquilo que é visível, palpável), não é apenas analisar os gestos e a posturas adotadas pelos trabalhadores, não é apenas dizermos o jeito melhor para as pessoas fazerem isso ou aquilo e muito menos a postura que elas devem adotar.

Para fazer Ergonomia não basta ter um olhar superficial, restrito a modelos milagrosos e pré-formatados, com uso excessivo de ferramentas /check lists, baseada apenas na visão do especialista. Acreditamos que isso não agregará valor à empresa e gerará inúmeras frustrações para todos.

É preciso saber tornar o invisível visível. É preciso tirar a invisibilidade das pessoas. É preciso ter coragem para escutar. É preciso ter coragem de coconstruir. É preciso ter coragem de não ter resposta para tudo e construir junto.

Precisamos ser mais criteriosos ou mais criticos quando falamos de Ergonomia.

Até quanto treinamentos resolvem?

Até quanto orientação postural resolve?

Até quanto a raiz dos problemas estão sendo identificados?

Até quanto…?

Chega um momento que o SISTEMA precisa mudar e NÃO SOMENTE AS PESSOAS

Peraí, verdades precisam ser ditas, vem comigo.

Chega um momento que o SISTEMA precisa mudar e NÃO SOMENTE AS PESSOAS. É preciso tirar o foco das pessoas e colocar no sistema, se não, a conta vai chegar e será bem cara.

Essa ilusão da “pessoa certa no lugar certo” é um crime contra os trabalhadores que estão sofrendo submersos em sistemas “emburrecidos”, paralisados diante da falta de coragem em mudar, em simplificar, em fazer novos combinados. Acredito no sistema certo para todas as pessoas se desenvolverem, acho isso muito mais inteligente e humano.

O sistema precisa dar condições para as pessoas agirem, criarem, desenvolverem o seu melhor. O sistema precisa permitir que espaços de fala existam, que a cooperação e a confiança sejam as novas regras. Quando o contrário é exigido, as pessoas sucumbem, deixam de ser resilientes, perdem o sentido, morrem por dentro.

É sim possível equacionar essa relação sistema X pessoas, de uma maneira que seja uma relação ganha ganha, prazerosa e menos sofrida. É possível sim buscar o equilíbrio entre ser excessivamente normativa e ter olhos para enxergar a realidade (nua, crua e possível).

Pede-se que o trabalhador seja inovador… mas a qual custo?
Pede-se que o trabalhador vista a camisa… mas a qual custo?
Pede-se que o trabalhador seja empoderado… mas a qual custo?

Se o sistema não permitir, esse é o custo do sofrimento.

Como diz um trecho de um artigo que gosto muito: “Torna-se difícil imaginar que o trabalhador possa dominar seu trabalho ao invés de ser dominado por ele e, que, possa tornar-se sujeito de suas ações ao invés de ser convertido em mercadoria.”

Acredito verdadeiramente em um trabalho que possibilite os trabalhadores criarem a sua identidade e realização pessoal, em que seja possível reconhecer e ser reconhecido e que tenha principalmente a liberdade para agir, pensar e debater. Certamente, isso é a grande fonte da felicidade e saúde.

E para isso acontecer? Basta começarmos.

Esse é o Jeito Movas de ser.