Ahhhh! como o mundo do trabalho mudou nas últimas décadas!! Quando fecho os olhos e lembro de como era antes, nunca pensei que chegaríamos onde chegamos. Sem querer ser pessimista, o mundo do trabalho mudou sim, e dependendo do ponto de vista mudou para melhor e de outro ponto de vista, nem tanto. Vamos refletir sobre isso juntos aqui nesse artigo, a convite do meu querido jornalista Ricardo Mucci e pensarmos no nosso papel enquanto agentes de transformação desse mundão.
O mundo do trabalho vem passando por diversas transformações ao longo dos tempos, fato que não é novidade para ninguém. Passamos por revoluções industriais, globalização, revolução tecnológica, revolução da longevidade, diversidade, inteligência artificial, robótica e uma coisa é fato, essas transições não irão parar, pois enquanto surgirem necessidades vindas do mercado, essas transformações continuarão a acontecer. O mercado muda, as pessoas mudam e o design organizacional das empresas muda também.
Estamos vivendo um grande paradoxo, de repente o maior de todos os tempos, vejam só. Vocês já observaram o quanto a relação das pessoas com o trabalho mudou ao longo dos tempos? Até há algumas décadas atrás, encontrávamos pessoas fazendo carreira em empresas, se conformando tranquilamente em serem empregadas de organizações que escolhiam o modelo comando e controle, eram submissas aos chefes de departamento e sonhavam em se aposentar no primeiro emprego. Esse era o cenário comum Brasil a fora.
Mas com todas as transformações, o sentido e o significado dado para o trabalho transformou e as organizações estão precisando se adaptar rapidamente para manter as pessoas interessadas, para ser possível se manterem no mercado e instituindo modelos de sustentabilidade e produções mais limpas. Felizes das empresas que já estão nascendo com uma essência colaborativa, interessante e pautada em novos valores. Vejam só, as coisas estão mudando tanto nas empresas que já é possível encontrarmos 4 gerações de idade trabalhando juntas, já é possível a interação homem robô em um mais pacífico caos, vemos pessoas sendo empreendedoras dentro da própria empresa em que ela é CLT. Podemos concluir que finalmente podemos estar diante de uma nova revolução, a revolução do trabalho com sentido, do trabalho que para além do dinheiro, gere prazer, proporcione um trabalho solidário, coletivo e saudável.
Mas as empresas estão se preparando genuinamente para essa enxurrada de mudança? Estão optando por novos modelos organizacionais? Estão se tornando menos piramidais e mais horizontalizadas? Posso dizer que mais ou menos, mas como otimista que sou, já estamos trilhando um caminho, que pode ser longo, depende de todos nós.
Arrisco a dizer, ao longo desses meus 20 anos como Ergonomista e cientista do trabalho, que sobreviverão as empresas que forem mais coerentes!!! Sim, isso mesmo, coerentes, essa é a palavra mandatoria. Coerência é conexão, é uma relação harmônica, é nexo. Coerência gera engajamento, gera sentido, gera prazer, gera interesse, gera produtividade, gera saúde, gera inovação, ufa… que espetacular, onde estão todos que não estão ouvindo isso? Só mais um ponto importante, coerência é o quanto o que a organização “fala para fora” (stakeholders, mídia, etc) é coerente com o que ela “fala para dentro” (empregados, acionistas, colaboradores).
E olhando para os imensos desafios do mundo de hoje, as empresas não têm outro caminho, precisam rever o modus operandi, precisam rever a participação do ser humano nessa história toda, ou melhor, precisam deixar que sejam seres humanos. Ou será que o ser humano está com os dias contados para serem substituídos pelos robôs?
Não estou falando? As mudanças não param de acontecer, precisamos nos manter atentos e observar cada movimento desse mundo globalizado. A inteligência artificial está aí, até no ar que a gente respira. Os robôs, que antes eram vistos somente do outro lado do mundo, já estão por aqui, dividindo postos de trabalho conosco, trocando ideias por telefone e praticamente lendo os nossos pensamentos!
Estamos chegando na era onde os humanos serão reféns das máquinas? ou conseguiremos viver em plena harmonia e solidariedade? Sinto informar, mas as empresas terão que passar por um rápido banho de loja, terão que rever sua arquitetura organizacional, seu modelo de funcionamento, seus valores e definir bem quem fará parte desse jogo.
Mas olha só que coisa maluca!!! Progredimos tanto, trilhamos uma jornada tão surpreendente que partiu do trabalho humano para o trabalho robotizado, que estamos sentindo uma necessidade urgente de darmos alguns passos atrás. Ooops! deixamos para trás alguns valores essenciais para a vida humana na Terra.
Será que é possível, agora que já transformamos tanto, resgatar o calor humano? Será que é possível resgatar o olho no olho? Será que é possível resgatar aquele cafezinho com uma boa prosa? Será que é possível trocar ideias de homem para homem? Será que é possível contar a minha história para alguém e ser ouvida com atenção? São esses valores, que são humanos, que a humanidade está buscando como uma caça ao tesouro.
Durante toda a minha vida ouvi a seguinte frase: “o trabalho dignifica o homem”. E eu acredito verdadeiramente nessa máxima (eu e muitos cientistas do trabalho) que afirma que “trabalhar não é apenas produzir; trabalhar é também construir a si mesmo”. Afirmam também que trabalhar é o que há de mais nobre nessa vida, pois é a grande oportunidade do ser humano se desenvolver e se realizar. Trabalhar é utilizar de todos os seus saberes, de toda sua criatividade, de toda a sua bagagem para se desenvolver como ser humano. Trabalhar é uma ação, é uma atividade transformadora, pelo menos é o que se espera do trabalhado edificante. Trabalhar é encher a vida de sentido.
E é isso que eu sei fazer. Ajudo organizações a se desenvolverem enquanto organizações humanas, ajudo as organizações a serem coerentes e a gerar sentido para as pessoas. É sobre essa Ergonomia que estou falando, da Ergonomia que desenvolve, que coloca o indivíduo em ação na direção da transformação do seu ambiente de trabalho e de todo o contexto que ele está envolvido. Estou falando da Ergonomia que aproxima trabalho do trabalhador, que diminui as distâncias entre as pessoas, entre as idades, que possibilita a construção de riqueza e de realização.
Chegou a sua vez. É hora de lutar por um mercado coerente e transparente, fortalecido de valores e sentido, onde o ser humano está no centro das decisões. #Tamojunto, como diria o amigo Ricardo Mucci.
Por Lilian Assunção